Especialista DTM

Dr. Rafael

RAFAEL LUIS FERRARI BORGES

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA RELAÇÃO ENTRE O BRUXISMO E USO DE FÁRMACOS

CAMPINAS
2013

RAFAEL LUÍS FERRARI BORGES

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA RELAÇÃO ENTRE O BRUXISMO E USO DE FÁRMACOS

Monografia apresentada a Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, como requisito para obtenção do titulo de Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Sérgio Guimarães

CAMPINAS
2013

Apresentação da Monografia ao curso de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial.

Coordenador: Prof. Dr. Antônio Sérgio Guimarães

Orientador: Prof. Dr. Antônio Sérgio Guimarães

RESUMO

Bruxismo é definido como uma desordem de movimento incontrolado da mandíbula rangendo ou apertando os dentes, ocorrendo de dia ou à noite. A correlação do uso de fármacos e o bruximo, principalmente os antidepressivos, vem sendo estudado ao longo das décadas. O objetivo deste trabalho foi  encontrar na literatura artigos que estudam a relação do uso de fármacos , principalmente antidepressivos, com o Bruxismo. Há vários relatos de caso correlacionando o uso destes fármacos com o aparecimento do Bruxismo. Fármacos que são na sua maioria antidepressivos, SSRI (Inibidor seletivo da recaptação de serotonina) e os Tricíclicos. O Bruxismo associado a estas drogas pode ser altamente destrutivo, resultando diversas consequências para a saúde que incluem destruição da estrutura dos dentes, dano irreversível da ATM, dor facial severa e dor de cabeça.  Concluiu-se que a maioria dos fármacos antidepressivos estudados induziram o bruxismo.
Palavras-chave: Bruxismo e antidepressivos. Antidepressivos e apertamento. Antidepressivos.

 

ABSTRACT

Bruxism is defined as a movement disorder uncontrollable jaw clenching or grinding the teeth, occurring day or night. The correlation between drug use and bruxism, mainly antidepressants, comes been studied for decades. The aim of this study was to find articles in the literature that studied the relationship between use of drugs, particularly antidepressants with bruxism. There are several case reports correlating the use of these drugs with the appearance of Bruxism. Drugs which are mostly antidepressants, SSRI (selective inhibitor of serotonin reuptake) and Tricyclics. Bruxism associated with these drugs may be highly destructive, resulting in different consequences for which include the destruction of healthy tooth structure, damage irreversible TMJ, facial pain and severe headache. It was concluded that most antidepressants studied induced bruxism.
Keywords: Bruxism and antidepressants. Antidepressants and clenching. Antidepressants.

 

1 INTRODUÇÃO

A etiologia do Bruxismo não é totalmente conhecida, mas considera-se ser multifatorial e estar relacionada ao sistema nervoso central. Muitas vezes, é sugerida ter o estresse e outras contribuições psicológicas, porém, sem uma forte evidência. Em resumo, sabe-se que o bruxismo é um fenômeno complexo, sem etiologia conhecida. Parece haver consenso, no entanto, de que não há provas de que características oclusais estejam associadas ao bruximo (Lavigne et al., 2008).
Bruxismo pode ser induzido por várias drogas, incluindo Levodopa, antidopaminérgicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRIs) como a Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina e Citalopram, Anfetaminas e ácido valpróico (Alonso-Navarro et al., 2009).

 

PROPOSIÇÃO

O objetivo deste trabalho foi analisar artigos na literatura que correlacionassem bruxismo e uso de medicamentos, principalmente antidepressivos.

 

3 REVISÃO DA LITERATURA

Uma pesquisa literária identificou 127 casos de SSRI induzindo desordens de movimento, com 10 casos isolados de bruxismo (Alonso-Navarro et al., 2009).
Tem sido postulado que as perturbações no sistema central dopaminérgico, especialmente no trato mesocortical, estão ligadas ao bruxismo. O bruxismo induzido por SSRI é considerado como sendo uma consequência da inibição mediada serotonérgica aliada do sistema dopaminérgico (Lavigne et al., 2003). Em outra mão, tem sido sugestionado que o bruxismo pode ser uma variante da acatisia ou discenesia (Fitzgerald, Healy, 1995; Jaffee, Bostwick, 2000). Acatisia é uma condição psicomotora onde o paciente sente uma grande dificuldade em permanecer parado e discenesia é uma alteração dos movimentos voluntários, incluindo certos tipos de movimentos involuntários anômalos.
No estudo de Ellison et al. (2003) foram relatados quatro casos de pacientes com depressão que utilizaram no tratamento SSRI como Fluoxetina e Sertralina. Em praticamente todos casos, após duas semanas, o bruxismo apareceu, assim como também as dores na ATM e cansaço muscular. Com a melhora nos sintomas de depressão, a medicação foi diminuída pela metade. A partir daí o bruxismo declinou e praticamente se extinguiu.
Em um estudo de caso Brown et al. (1999) relataram bruxismo induzido por Venlafaxina, os sintomas começaram poucos dias após a introdução de Venlafaxina. Em outro estudo com a mesma substância do anterior, Jaffee (2000) relatou dois casos de bruxismo induzido.
Kishi (2007) relatou uma caso de bruxismo induzido por paroxetina. Na pesquisa de Detweiler et al. (2002) foram relatado um caso de distonia, bruxismo e síndrome da DTM induzido pelo uso da Bupropiona. Distonia é distúrbio de movimento neurológico em que as contrações musculares sustentadas causam torção e movimentos repetitivos. O paciente de 44 anos com sintomas de depressão iniciou tratamento com citalopram 20 mg por dia, o qual foi diminuído pela metade e acrescentado bupropiona 150 mg uma vez ao dia. Após 10 dias, citalopram foi tirado, aumentando a dose de bupropiona 150 mg duas vezes ao dia. Após várias semanas, os sintomas de espasmo, dor e acordar com a musculatura de ATM cansada apareceram. A medicação foi então diminuída pela metade, tomando uma vez ao dia, com isso os sintomas melhoraram e a depressão também foi controlada.
Lobbezoo (2001) estudou relatórios médicos de pacientes tratados com SSRI e concluiu que dentre os inúmeros efeitos colaterais o bruxismo é um deles.
Iskandar et al. (2012) relataram um caso de fluoxetina induzindo bruxismo. O paciente iniciou o tratamento com 20 mg, o qual permaneceu sem efeitos colaterais e com melhora nos sintomas de depressão, passados 5 anos, voltou a ter uma crise depressiva e o medicamento foi aumentado para 60mg, duas semanas após essa dosagem o paciente queixou-se de bruxismo do sono.
Etzel (1991) fez um estudo clínico utilizando o Triptofano, um precursor da serotonina, utilizado com antidepressivo. Concluiu que não houve indução de bruxismo. Mohamed E S et al., fizeram um estudo avaliando a ação da amitriptilina na atividade noturna do músculo masseter. Num determinado grupo utilizou amitriptilina 25 mg e no outro placebo. Após as administrações avaliou a atividade do músculo masseter e não teve diferença significativa.
Raigrodski et al. (2001) estudaram o mesmo fármaco em mulheres com 2 grupos: 25 mg amitriptilina e outro placebo. Concluiu que essa administração não influenciou a atividade noturna do masseter.

MATERIAL E MÉTODO

Foram utilizados quinze artigos em língua inglesa, de 1991 a 2012.  Esses artigos foram escolhidos pois estudam as drogas antidepressivas mais prescritas. Foi utilizado o filtro para pesquisa em humanos. Artigos que citam a indução de bruxismo por fármacos, principalmente antidepressivos. A busca das referências encontradas se deu por meio de busca online da Biblioteca da Faculdade São Leopoldo Mandic na data de 10 de abril de 2013 . As fontes foram PUBMED, BIREME e MEDLINE. Foi realizada revisão crítica dos resultados, confrontando todos artigos.
Descritores: Bruxismo e antidepressivos, antidepressivos e apertamento, antidepressivos. Bruxism and antidepressants, antidepressants and clenching, antidepressants.

RESULTADO

A tabela abaixo mostra os artigos estudados e analisados. Está dividida em tópicos: ano do artigo; autor; quantidade de artigos; tipo de estudo realizado no artigo em questão; gênero dos pacientes estudados; materiais e métodos, mostra o fármaco usado no artigo; resultados, ou seja se houve ou não a indução do bruxismo; e por fim a conclusão, se foi positiva ou não para o objetivo deste estudo.

4 DISCUSSÃO

Em base a esses artigos estudados, há uma relação forte entre o uso de medicamentos antidepressivos e o aparecimento do bruxismo. Alguns são relatos de caso, outros revisão crítica da literatura. Todos citam essa relação.
Todos sabemos que a medicação antidepressiva é necessária, porém traz alguns efeitos colaterais danosos ao organismo. Concluímos então que a partir do momento que a crise depressiva melhora, a medicação deve ser diminuída e assim os efeitos, principalmente o bruxismo, são controlados. Nas várias pesquisas foi assim relatado, o bruxismo apareceu nas primeiras 2 a 3 semanas do tratamento com o fármaco, principalmente quando a dose era aumentada e ficou por vários meses, e assim que diminuída a medicação, o bruxismo e outros sintomas na ATM sumiram.
Mohamed E S  Et al.,l concluiu que pequenas doses de antidepressivo tricíclico amitriptilina não tem ação significativa no bruxismo do sono e desconfortos associados.
Raigrodski J A  Et al.,l também estudou a atividade do músculo masseter após administração de amitriptilina e não houve diferença significativa. Mas mesmo assim a amostra desses estudos é pequena e não há provas suficientes que na maioria dos pacientes esse fármaco atue de maneira igual.

5 CONCLUSÃO

Antidepressivos são frequentemente prescritos, então, Dentistas deveriam conhecer os efeitos inclusive o Bruxismo. Há ainda poucas pesquisas envolvendo casos clínicos na literatura. Existe a necessidade de uma continuidade dos estudos envolvendo esses fármacos, pois estes trabalhos tem uma amostra pequena.
Apesar desses estudos, sabemos que limitados em número, houve uma tendência para a indução do bruxismo.
Bruxismo é uma condição que ainda não temos a etiologia descoberta pela ciência. Atualmente nos leva a acreditar que seja um desequilíbrio do Sistema Nervoso Central, mas as substâncias e os mecanismos não são conhecidos.
Alguns fármacos antidepressivos provocaram bruxismo em vários casos, mas atuaram de maneira esperada no controle da ansiedade e depressão. Por isso, fizeram com que melhorassem o quadro inicial da depressão e evolução do paciente. O bruxismo não passa de um efeito colateral destes fármacos.

REFERÊNCIAS

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De acordo com o Manual de Normalização para Monografias da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, baseado no estilo Vancouver de 2007, e abreviatura dos títulos de periódicos em conformidade com o Index Medicus.